sábado, 13 de outubro de 2018

GÊNEROS TEXTUAIS COMO OBJETO DE ENSINO


Juno Brasil Custódio de Souza Mat.: 677011[1]
Prof. Mestre Orientador: Clebson Peixoto[2]
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Licenciatura em Letras (LED 0259) – Seminário da Prática do Módulo VII
Trabalho apresentado na VII Jornada Acadêmica de Integração - JOIA
19/05/2017

  

RESUMO


Examinando acerca das novas propostas do processo ensino-aprendizagem da língua, alicerçadas numa investida que tem como eixo os estudos sobre gêneros textuais como objeto de ensino, se desenvolveu este trabalho com os objetivos de avaliar, refletir e compreender acerca dos gêneros textuais no ensino da linguagem em sala de aula, com abrangência nas perspectivas e sugestões dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Fundamental. Com esta conjectura foi realizado um estudo embasado em estágios curriculares, disciplinas do curso de Letras da Uniasselvi e teóricos como Bakhtin (2000), Dolz (2015), Marcuschi (2007, 2008), Melo (2010b), Tafner (2011) e outros. Esta pesquisa teve como enfoque o gênero editorial. E através da análise dos dados, podemos perceber que as práticas pedagógicas do ensino da linguagem, conforme sugerem os PCNs, ainda são carentes de uma metodologia mais eficiente, com uma abordagem mais prática de contextualização e características de diversos gêneros textuais, de maior uso e funcionalidade na vida cotidiana.
                                                                                                        
Palavras-chave: Gêneros textuais. Editorial. Metodologia.


TEXTUAL GENRES AS A TEACHING PURPOSE


ABSTRACT

Examining the new proposals of the teaching-learning process of the language, based on an investigation that has as its axis the studies on textual genres as object of teaching, this work was developed with the objectives of evaluating, reflecting and understanding about the textual genres in the teaching of language in the classroom, covering the perspectives and suggestions of the National Curricular Parameters (PCNs) of Elementary School. With this conjecture, a study based on curricular stages, Uniasselvi's course of literature, and theoreticians such as Bakhtin (2000), Dolz (2015), Marcuschi (2007, 2008), Melo (2010b), Tafner (2011). This research focused on the editorial genre. And through data analysis, we can see that the pedagogical practices of language teaching, as suggested by NCPs, are still lacking in a more efficient methodology, with a more practical approach to contextualization and characteristics of several textual genres, of greater use and functionality in everyday life.

Keywords: Textual genres. Editorial. Methodology.


1 INTRODUÇÃO


Em continuidade ao meu trabalho de Projeto de Ensino, alinhado com minha área de concentração “Ensino da Língua Portuguesa” e com as novas propostas do processo ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, este trabalho foi realizado com uma investida nos estudos sobre gêneros jornalísticos, e/ou midiáticos no ensino da linguagem. Com esta proposição realizou-se um enfoque sobre as práticas pedagógicas do ensino dos gêneros textuais na sala de aula.
Compreendem-se por gêneros textuais os elementos de natureza sociocultural, que consolidam a língua nas várias ocorrências sociocomunicativas. Assim, de acordo com diversos estudiosos da língua, como Bakhtin (2000), Dolz (2015), Marcuschi (2007, 2008), Tafner (2011) e outros, quando se estuda um texto, se têm como eixo os gêneros textuais, pois, todo texto se desponta de um gênero textual, sendo objeto de relevância no ensino da linguagem, pelo seu emprego e utilidade habitual.
Com a finalidade de avaliar, refletir e compreender criticamente as práticas pedagógicas dos gêneros textuais no ensino da língua portuguesa, em sala de aula, realizou-se esta pesquisa de cunho documental, apoiada em vários teóricos e uma investigação de campo concretizada numa escola pública do ensino fundamental, do município de Parauapebas (PA), com observações em aulas de professores do 9º ano do ensino fundamental.
Diante da inúmera diversidade de gêneros textuais, na pesquisa de campo foi elucidado em salas de aulas, sobre alguns gêneros jornalísticos (midiáticos) como: notícia, reportagem, editorial, entrevista, artigos e outros. Com foco no gênero editorial, por se tratar de um gênero opinativo, do tipo textual dissertativo-argumentativo, de temas polêmicos do nosso cotidiano, muito utilizado em concursos, vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesta pesquisa ficou perceptível que os professores de Língua Portuguesa, ainda, estão atrelados aos livros didáticos, necessitando de uma metodologia mais eficiente, que lhes forneçam sustentação teórica na didática da língua materna, quanto aos aspectos dos gêneros textuais de práticas sociais.


2 DISTINÇÃO ENTRE TIPOS TEXTUAIS E GÊNEROS TEXTUAIS

Assim como os PCNs e vários autores recomendam que, o ensino da linguagem deve ser fundamentado com enfoque nos gêneros textuais, mas é nítido que há um conflito entre a designação de tipos textuais e gêneros textuais, implicando na necessidade de destacar que há uma distinção entre essas duas expressões, que segundo Tafner, (2011, p.124), é de suma importância à concepção dessa diferença, na prática de qualquer trabalho com produção e compreensão textual. A autora observa que a expressão tipo textual serve de desígnio a uma espécie de seguimento, que supostamente é definida pela natureza linguística de sua composição lexical, sintática e gramatical, aferida por uma pequena camada classificada como: narração, descrição, argumentação/exposição e injunção. E difere de gênero textual que serve para referenciar os inúmeros textos concretizados nas produções das mais diversas interações sociocomunicativas do nosso cotidiano. A autora avulta também que em oposição aos tipos textuais que são dinâmicos, os gêneros textuais são divergentes e possuem características funcionais, estilo e composição particulares, conforme a intencionalidade de cada comunidade linguística, o que os tornam infinitos, dos quais podemos citar: as cartas (comercial e pessoal), bilhete, reportagem jornalística, notícia, editorial, artigos, outdoor, bula de remédio, edital, piada, carta eletrônica, e-mail, chat e outros.
Vários linguistas, como Bakhtin (2000), Dolz (2015) e outros, acentuam que os gêneros textuais são heterogêneos e Marcuschi (2007, p.24-25), assinala que: os gêneros enquanto inúmeras entidades sociodiscursivas, são produções textuais escritas e orais suficientemente consolidadas, ligadas a um contexto socio-histórico, de acordo com as inúmeras atividades comunicativas do cotidiano social.
Os PCNs destacam que: “[...] A produção de discursos não acontece no vazio. Ao contrário, todo discurso se relaciona, de alguma forma, com os que já foram produzidos. [...]”. (BRASIL, 1998, p.23). Portanto, toda produção discursiva não sucede isolada, ao contrário está integrada de algum modo com elaborações textuais precedentes, numa analogia de interação social, com intertextualidade, onde todo texto se organiza dentro de um determinado gênero em função e uso dos intuitos sociais determinados pela produção dos discursos.
Considerando as diferenças existentes entre os gêneros discursivos, Bakhtin (2000, p. 281) divide-os em primários e secundários, que segundo o autor, os gêneros primários estão vinculados a um campo de atividade mais elementar, presentes no cotidiano do falante, como a carta, o bilhete, etc. Em equivalência, os gêneros secundários estão atrelados a um campo de atividade mais intricada, pois os mesmos aparecem em circunstâncias complexas e referentes, de forma progressiva, em essencial na escrita literária, científica e sociopolítica.
Para Bakhtin (2000, p. 281), os gêneros secundários podem absorver e transformar os gêneros primários, porque os secundários possuem uma condição de enredamento maior. De maneira que, quando um gênero primário é incorporado por um secundário, ele se insere no mesmo, transformando sua relação com outra realidade existente, adquirindo uma nova característica particular.

3 GÊNEROS TEXTUAIS COMO OBJETO DE ENSINO

Conforme citado antes, há uma imensa disparidade de gêneros, que se constituem de acordo com as relações dialógicas de cada comunidade linguística, o que causa uma ocorrência muito perspicaz, quanto à seleção dos mesmos para o ensino da linguagem na sala de aula.
Os PCNs; Brasil (1998, p.21), sugerem os gêneros textuais como objetos de ensino de Língua Portuguesa, com atividades de oralidade e escrita, como produção e compreensão textual, de diversos gêneros, de maneira a acender a reflexão e aprimoramento do estudante, acerca do uso e funcionalidade da língua. E apostila que:

 [...] Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas. A compreensão oral e escrita, bem como a produção oral e escrita de textos pertencentes a diversos gêneros, supõem o desenvolvimento de diversas capacidades que devem ser enfocadas nas situações de ensino. É preciso abandonar a crença na existência de um gênero prototípico que permitiria ensinar todos os gêneros em circulação social. (BRASIL, 1998, p. 23-24)

Conforme apontamento dos PCNs na citação acima, quanto à didática dos gêneros textuais no aprendizado da língua portuguesa, sobressai-se a necessidade de uma minuciosa compreensão acerca da abordagem sobre a diversidade entre os gêneros textuais, abandonando a primícia de que haja um protótipo de gênero, que permeia o ensino dos demais.
Marcuschi (2008, p. 206) destaca que diante da múltipla diversidade dos gêneros, não há gêneros ideais para o ensino, e, contudo, podem-se detectar modelos genéricos que permitem uma sucessão no grau de dificuldade, partindo do mais simples ao mais complexo. E denota uma preocupação na escolha de gêneros direcionados à compreensão e produção textual, de forma precavida, por serem exercícios que demandam aptidões distintas. O linguista adverte que, os próprios PCNs encontram muita dificuldade em apresentar uma solução para a demanda de quais gêneros textuais são mais apropriados ao processo ensino-aprendizagem, diante dessa diversidade de gêneros disponíveis ao educador.
Com essa mesma teoria Silverstone (2002, p. 9) recomenda que, seria conveniente aos professores trabalharem com atividades de gêneros textuais menos conhecidos dos alunos, especialmente os escritos vinculados as esferas de atividades secundárias, mais complexas. E cita como exemplo, os gêneros midiáticos, por serem presentes no cotidiano das pessoas.
Para Dolz (2015, p. 6-7), “Nos últimos vinte anos, a abordagem pelos gêneros textuais se tornou algo inevitável na didática das línguas”. Com essa hipótese, o autor apostila os gêneros textuais, como objeto essencial ao ensino da língua. E aponta duas razões essenciais; como a primeira; porque o gênero discursivo permite uma reprodução das convenções que regem uma origem de textos para um dado grupo cultural, onde as condições e a dinâmica das ações comunicativas são norteadas por convenções sociais. A segunda razão distinguida pelo pesquisador como a mais importante, é que numa concepção pragmática, toda comunicação se concretiza através de gêneros textuais.
Ainda segundo Dolz (op. Cit.) se tem como principal finalidade do ensino, o letramento, combinando a leitura com a escrita, a fala e a escuta. E, portanto, se faz necessário uma reflexão sobre a língua, quanto à promoção da linguagem, enquanto domínio consciente de sua efetivação, com cautelas acerca do discurso textual comunicativo, dos procedimentos e dos significados dos textos. O autor acrescenta que é preciso dominar a língua escrita em todos os seus níveis e que para alcançar esse objetivo, se faz necessário o estudo dos gêneros nas suas características e contextualizações.
Dolz (2015, p. 7) considera os gêneros como ferramentas semióticas, cristalizando as significações associadas às práticas sociais e cuja apropriação permite a interiorização de experiências culturais sedimentadas historicamente. E exemplifica o gênero itinerário, como um instrumento da semiótica que nos possibilita chegar com sucesso ao local de destino.
Perante essas teorias, podemos pressupor que, o trabalho com os gêneros textuais em sala de aula deve propiciar aos alunos a participação na construção de sentido do texto, com a obtenção da experiência. E no planejamento do ensino de Língua Portuguesa, o educador precisa se atentar em métodos com diversos gêneros textuais gradualmente, empregando as sequências didáticas, de modo a cultivar diversos modelos de cada gênero, examinando as suas características próprias e praticar feitios de sua escrita, antes de propor uma produção escrita final.

3.1 PROPOSTAS DE TRABALHO DOS GÊNEROS EM SALA DE AULA

Dolz (2015, p. 7-13) apresenta uma proposta de se trabalhar o ensino dos gêneros, tanto na modalidade escrita, quanto na oral, explorando suas diversidades, por meio de conteúdos temáticos, que segundo ele, são relevantes no ensino da língua, por serem explícitos, de caráter particular, conforme cada gênero e tipo textual, contendo poucos elementos comuns entre si, o que favorece uma melhor compreensão dos alunos no exercício da leitura. O autor avalia que os textos pertencentes a um mesmo gênero apresentam regularidades no nível da estrutura comunicativa e semiótica, favorecendo uma preparação e seleção dos campos lexicais para a produção oral e escrita, mas adverte que é preciso realizar uma planificação do gênero a ser trabalhado em sala de aula.
Outro nível, apontado por Dolz (op. Cit.) é o da aprendizagem pelos gêneros, incluindo a criatividade para um determinado gênero, situada num trabalho com as intervenções de planejamento, onde a organização de um gênero sempre se insere de outros tipos textuais, com abordagem das sequências textuais, que se organizam em unidades composicionais do gênero. O autor especifica que nesse caso se incluem todas as unidades linguísticas que participam da coesão do gênero, de maneira a possibilitar ao receptor a assimilação do mesmo, onde as conexões contextuais, de uma sequência linguística, consentem se em observar a disposição formal e a semântica que conduz à compreensão do texto. E no plano da produção, elas fornecem ajustes de constituições disciplinares da clareza do texto produzido.
O autor reforça que a prática didática da linguagem por meio dos gêneros é um estudo claro de variação e mudança linguística, porque as produções textuais são apontadas no desempenho das situações comunicativas, ajustando as características enunciativas, onde as distinções discursivas e textuais peculiares são estabelecidas em relação com as condições de produção. E que a progressão das competências de linguagem dos alunos não pode se concretizar trabalhando simplesmente com um gênero ou uma família de gêneros, sendo imprescindível uma interlocução eficaz entre os diversos gêneros.

4 ABORDAGEM DO GÊNERO EDITORIAL

Conforme a proposição deste trabalho, procuramos fazer um estudo sobre diversos gêneros jornalísticos, como artigo, entrevista, carta do leitor, crônica, notícia, reportagem, com foco no gênero editorial, por se tratar de um gênero do tipo opinativo, que promove ideias críticas acerca de problemas sociais polêmicos.
Sousa (2001, p. 231), classifica os gêneros jornalísticos em: entrevista, reportagem, crônica, editorial e artigo (de opinião, análise, etc.). Mas, argumenta que não há uma fronteira bem delimitada entre os gêneros jornalísticos, sendo, portanto, difícil classificar com rigor se uma determinada produção pertence a um gênero ou a outro. O autor completa que, como subterfúgio, todas as “peças” jornalísticas poderiam ser consideradas “notícias”, caso apontem informações novas. Essa ideia apresentada pelo autor é lógica, mas, por prudência, não se deve empregá-la apenas com esse critério de classificação para as notícias. O próprio autor reconhece isso, e, dissemina uma definição para esses gêneros, afirmando que, de fato, os gêneros jornalísticos obedecem a determinados modelos de interpretação e apropriação da realidade através de linguagens padronizadas.
Uma das classificações mais recentes de gêneros jornalísticos é a de Melo (2010b), que faz uma nova interpretação de seu antigo paradigma, com uma nova disposição dos gêneros jornalísticos divididos em: informativo, opinativo, interpretativo, diversional e utilitário, cada um com atributos próprios de consenso e conceito social. O autor subdivide cada um desses gêneros: informativos (nota, notícia, reportagem, entrevista, título e chamada); gêneros opinativos (editorial, comentário, artigo, resenha ou crítica, coluna, carta e crônica); gêneros utilitários ou prestadores de serviços (roteiro, obituário, indicadores, campanhas, “ombudsman”, educacional); gêneros ilustrativos ou visuais (gráficos, tabelas, quadros, demonstrativos, ilustrações, caricatura e fotografia), propaganda (comercial, institucional e legal) e entretenimento (passatempos, jogos, história em quadrinhos, folhetins, palavras cruzadas, contos, poesia, entre outros).
Conforme Melo (op. cit.) entre os gêneros jornalísticos opinativos, o editorial é um gênero textual jornalístico mais utilizado nos veículos impressos, por apresentar a opinião de um jornal ou revista em relação a diversos temas do cotidiano e acontecimentos sociais, expressando o conceito coletivo dos responsáveis desses periódicos, o que contribui para a divulgação e publicidade dos mesmos. E que, apesar dos editoriais não serem notícias, porém, comumente são produzidos a partir de algum fato, atual ou histórico, notícias ou dados estatísticos, o que implica que, na produção de um editorial é necessário um agente causador, dos mais variados temas como política, cultura, educação, religião e outros como meio de avaliação, reflexão e crítica de determinado setor ou acontecimento social global.
Portanto, segundo o autor, dados estatísticos e notícias são agentes formadores mais utilizados na produção do gênero editorial, por se caracterizarem em possíveis temas polêmicos contidos em algum assunto específico. A introdução de um editorial por dados estatísticos ou notícias é bastante comum em editoriais, por serem aspectos de avaliação de seguimentos sociais e referência histórica, que embora não seja tão utilizada, mas assegura que é a melhor fonte de definição e análise de uma sociedade, ou seja, um recurso valioso na construção de editoriais. A metalinguagem também é outro mecanismo, que tem como referencial o próprio veículo de comunicação, utilizado como sustentáculo para a produção de editorial.
Das características do editorial vale destacar que, é a opinião de um determinado veículo de comunicação, em geral são curtos e concisos, onde a ideia central deve ser apresentada na introdução, a problematização deve ser inserida no desenvolvimento, fundamentada através de reportagens, notícias, dados estatísticos, citações, comparações, exemplos, depoimentos e outros. E por último a conclusão do editorial é onde o autor apresenta soluções ao problema ou uma síntese do tema, com motivação à reflexão crítica dos leitores.

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho teve como metodologia uma pesquisa de cunho documental, que segundo Tafner et al. (2013) é uma modalidade realizada em arquivos de empresas, escolas ou entidades públicas, bibliotecas e banco de dados digitais, com o principal objetivo de se realizar uma análise e interpretação de dados, sem se restringir à teoria. Para se atingir essa finalidade, embasada em estudos teóricos, foi realizada uma pesquisa de campo, numa escola pública do município de Parauapebas (PA), onde observamos duas aulas de dois professores do 9º ano do ensino fundamental, que aqui por questão de ética, denominamos a escola de “A” e os professores de P1 e P2, em seguida fomos autorizados a ministrarmos uma aula para cada turma sobre os gêneros jornalísticos e abandonamos os livros didáticos, utilizando jornais de notícias locais, para realizarmos atividades de leitura e produções escritas.

6 ANÁLISE DE DADOS

      A pesquisa de campo foi realizada numa escola municipal de Parauapebas (PA), que denominamos de Escola “A”, com 68 alunos, de duas turmas do 9º ano do ensino fundamental, onde foi realizada uma conferência com dois professores de língua portuguesa, que conforme observação de duas aulas de cada professor se percebeu que a metodologia do ensino dos gêneros textuais, utilizada por ambos, é praticamente baseada nos livros didáticos, que não oferecem muitas opções no estudo dos mesmos. Outra observação apontada nesta pesquisa acerca dessas práticas didáticas é que eles realizam a leitura dos gêneros, em seguida explanam superficialmente algumas características dos mesmos em seguida realizam as atividades propostas no livro didático e não exploram suas relações de uso e função no cotidiano, divergindo das sugestões dos PCNs, Brasil (1998), que sugerem um estudo mais profundo dos gêneros textuais, de forma a fornecer um aprendizado da linguagem em sua plenitude de uso e função.
         Concluídas as observações nas aulas dos professores P1 e P2, realizamos duas aulas com abordagem nos gêneros jornalísticos, sendo realizada uma com cada turma desses professores. Inicialmente foram apostilados que há diversos gêneros jornalísticos, conforme pontuados por Melo (op. Cit,), em: Informativos, opinativos, utilitários, ilustrativos, propagandas e entretenimento. E que conforme o pesquisador, os gêneros jornalísticos também têm suas subdivisões, das quais devido ao pouco tempo de aula, especificamente abordamos as subdivisões dos gêneros opinativos como comentário, artigo, resenha ou crítica, coluna, carta, crônica e o gênero editorial, que segundo Melo (op. Cit.) é um gênero textual que expressa o ponto de vista coletivo do meio de comunicação em que é publicado, com opiniões sobre temas e fatos atuais, notícias, reportagens e entrevistas, omitindo o nome do redator, por se tratar de uma opinião do veículo de comunicação, com características de textos curtos, concisos e polêmicos.
         A partir destas explicações os alunos foram divididos em grupos e receberam jornais locais contendo editoriais, sendo efetuada uma comparação entre notícia e editorial, para que a partir de suas características específicas, pudessem perceber as diferenças entre esses gêneros, compreendendo que a notícia tem um caráter informativo, apresentada como unidade informativa completa, com um estilo de tipo textual formal. Enquanto que o editorial é um texto dissertativo-argumentativo, que tem como suporte o veículo de comunicação, mas tanto pode se utilizar das notícias, como dados estatísticos, ou fatos e alusões históricas de forma a polemizar num contexto crítico social.
         Depois de realizadas as leituras de notícias e editoriais, foi efetivado um debate acerca das diferenças entre notícia e editorial, para em seguida ser disposta aos alunos a produção escrita de um editorial, baseada nas notícias dos jornais escolhidas por eles.
         Analisando os editoriais produzidos pelos educandos, percebe-se que embora a maioria das produções escritas não tenha domínio da norma padrão da língua portuguesa, com vários desvios ortográficos e semânticos, mesmo assim, houve uma grande compreensão sobre as explanações acerca dos gêneros jornalísticos opinativos, com compreensão da diferença entre editorial e notícia. Em destaque escolhemos um editorial produzido por um grupo desses alunos, que demonstram pouco domínio da língua escrita e conseguiram produzir um editorial de bom nível semântico, com opiniões criticas acerca de uma reportagem sobre a contaminação do Igarapé da Área de Preservação Ambiental (APA) do Gelado, localizada em Parauapebas, em que questionaram a ausência do poder público e da sociedade em cobrar da empresa, soluções para resolver estes problemas que estão impactando o meio ambiente do município, como podem conferir na figura abaixo:
        
              FIGURA 1 – Editorial produzido por alunos do 9º ano do ensino fundamental
FONTE: Produção escrita de atividade na escola “A”, mai. 2017
                                         

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a proposição dos PCNs; Brasil (1998), em que a didática da linguagem deve ter como eixo a leitura e produção textual pertinente a diversos gêneros textuais, com suas características e contextos específicos, de acordo com as práticas sociais. Onde Dolz (2015) reforça que no ensino da língua por meio dos gêneros textuais, deve-se graduar o estudo da intertextualidade, apontada nas características do gênero, como forma de escolha do que é autêntico e relevante em relação aos intuitos escolares e às competências iniciais dos diferentes níveis, podemos perceber nesta pesquisa, que as práticas pedagógicas conforme sugerem os PCNs, ainda são muito distantes da realidade.

Nas nossas considerações finais, podemos apreender através da pesquisa de campo, que houve uma boa compreensão por parte dos educandos nas aulas que ministramos sobre gêneros jornalísticos, quanto às suas funções e características, com produções escritas de expressões opinativas e críticas dos alunos. E que compete ao professor ir além dos livros didáticos, com uso de novas estratégias e dinâmicas, que possibilitem práticas pedagógicas mais motivadoras e eficazes, quanto ao ensino da Língua por meio dos gêneros textuais, comprometidas com a formação de um aluno/letrado.

REFERÊNCIAS



BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Maria Ermantina Galvão G.
Pereira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DOLZ, Joaquim. Os cincos ‘novos’ desafios para o ensino da língua portuguesa. Palestra proferida no Seminário Internacional Escrevendo o Futuro em São Paulo (SP), 22-23 jun. 2015. Disponível em: <https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/videos/formacao/palestras/artigo/1824/os-cinco-novos-desafios-para-o-ensino-da-lingua-portuguesa> Acesso em 26/03/2017.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

______. Produção de texto, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MELO, José Marques de. Panorama diacrônico dos gêneros jornalísticos. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 33. Caxias do Sul, 2010. Anais eletrônicos. São Paulo: Intercom, 2010b. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2010/resumos/R5-2215-1.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2017.

SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? Tradução: Milton Camargo Mota. Edições Loyola: São Paulo, 2002.

SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de Jornalismo Impresso. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior de Portugal. Porto: 2001. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf>. Acesso em: 20 mai. 2017.

TAFNER, Elizabeth Penzlien. Língua portuguesa: laboratório do texto. Indaial: Uniasselvi, 2011.

TAFNER, Elizabeth Penzlien et al. Metodologia do trabalho acadêmico. 2 ed. Curitiba: Juruá, 2006.



[1] Professor de Língua Portuguesa; graduando em Direito pela Unitins; graduado em Letras Português/Literatura pela Uniasselvi/2017; Pós-graduado em Docência no Ensino Superior e em Língua Brasileira de Sinais – Libras/Uniasselvi/2018. E-mail: junobrasil3@gmail.com

[2] Mestre em Ciência da Educação na Especialidade de Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores, pela Escola Superior de Educação Almeida Garrett/Lisboa. * Revalidado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor de Língua Portuguesa na Escola Estadual Indígena Tatakti kyikatêjê. E Tutor na Uniasselvi no curso de Letras, Marabá. E-mail: clebsonpeixoto@hotmail.com